3.8.07

Fup

Se você (no singular, pois é o único leitor), soubesse quanto tempo eu levo para escrever duas linhas neste blog entenderia porque eu fico dias ausente. Eu percebo o quão confusa sou quando tento escrever, é um turbilhão de coisas sobre a qual eu quero falar. O último livro que li, a tristeza sem motivo, a reunião de amigos na segunda-feira mais fria do ano. É tanta coisa e ao mesmo tempo não é nada, que eu escrevo e apago. Cinco, até dez vezes, antes de conseguir postar alguma coisa aqui. Acho que por mais que eu não tenha público, as poucas pessoas que visitam merecem ler algo útil e ainda que eu não consiga, eu tento pelo menos colocar as vírgulas nos lugares certos. O que nem sempre acontece.

Nem contei pra você, mas recentemente eu li o livro do Jim Dodge, aquele chamado FUP. E novamente eu faço votos para que alguém se inspire com o texto e leia alguma coisa dele também. O livro é pequeno e pode ser lido de uma vez só. Eu o li em duas horas. Duas horas em que eu sequer senti o tempo correr. Pensei em vários adjetivos para descrever o livro e os que me vieram a cabeça foram: delicioso e psicodélico. O Biajoni, em seu post mais recente consegue explicar bem melhor do que eu o que você sente quando ler sua obra. Mas com o trecho que separei, pode-se ter uma idéia:

" Estava sonhando com as adoráveis irmãs gêmeas se aconchegando no seu corpo quando a lua cheia se ergueu sobre o rio, ofuscante e limpa. Ouviu um choro abafado, uma criança no outro quarto, anos atrás, e aí ouviu seu nome sussurrado, talvez Miúdo tentando acordá-lo, ou uma das belas filhas do cacique murmurando seu nome no sono. Escutou atentamente na escuridão, uma concentração que parecia tirá-lo de si mesmo em uma suspensão vazia. Escutou o próprio coração parar de bater, o último encher de pulmões deixá-lo em um silêncio luminoso. Esperou, totalmente quieto. Escutou seu choro suave retornar em sua carne, desvanecendo-se em direção à lua. E então um sussuro de asas enquanto era erguido.
Podia sentir, pelo jeito como era levado, que não se tratava de anjos, não podia conceber que fossem anjos, tinha tanta certeza de que eram patos que nem se incomodou em abrir os olhos. Pacientemente, fez um último esforço para conseguir mais uma batida de coração, mais uma respirada, e então lhes disse com teimosia e ênfase, sem demonstrar nenhum arrependimento ou pesar:
- Ora, com os diabos, fui imortal até morrer.
Esperou, mas não houve mais respiração. Sucumbindo por si mesmo, relaxou e deixou que o levassem."

1 comment:

Fábio Shiraga said...

Na Flip, Arthur Dapieve dizia que os livros de Jim Dodge eram simples e gostosos de se ler, e perguntou como era o processo de criação. Se também era simples como a leitura, porque parece ser o contrário: quanto mais simples a leitura, mais difícil deve ser a criação. Mr. Dodge respondeu que Fup levou quase um ano, mas na verdade ele não encontrava a solução para Fup, e quando descobriu que era uma fêmea, terminou o livro em três semanas.

Belo post, Dre. Espero que outras pessoas também se sintam afim de ler Jim Dodge.

Beijo.