2.7.07

Sem o que fazer, escrevo.

Ela sentiu o vento quase cortando sua pele já ressecada pelo frio. As mãos confusas, não sabendo o que fazer. Tentava tirar o cabelo do rosto, mas suas mãos congelavam e as enfiava de volta no casaco. Ultimamente o tempo estava sempre assim, nublado, parecia até um estado de espírito, aquele céu azul de um dia de verão parecia uma memória triste e distante, não queria lembrar.
A rua estava molhada, acabara de chover quando ainda estava no ônibus, não havia muitas pessoas caminhando e as que estavam, tinham um semblante triste. Com toda certeza, o tempo tinha algo com isso.
Amy chegou em casa finalmente e como de costume pegou a bolsa e a vasculhou inteira procurando pela chave. Um dia ela teria que ser mais organizada com as suas coisas.
Abriu a porta, a bagunça intacta. O ruído do vento vindo lá de fora, uma pilha de louça pra lavar, guimba de cigarro no chão. – duvido que alguém seja mais looser do que eu. Disse, dando um sorrisinho irônico.
Deixou o café coando na cafeteira e foi tomar um banho escutando Smiths no último volume. Ouvia e cantava a plenos pulmões a parte que tanto gostava:

because the music that he constantly play,
it says nothing to me about my life.”


Saiu do banho e ainda enrolada na toalha acendeu o seu cigarro, todas aquelas promessas sobre emagrecer, parar de fumar, arranjar um namorado. Quanta besteira. Passaram-se cinco anos desde que se mudou para este pequeno apartamento e a vida continuava a mesma. Um maço e meio de Lucky Strike por dia. Cinco quilos a mais e como companhia somente a voz do Morrissey. Claro que houve muitos caras nesses cinco anos. Mas todos eles eram apenas passageiros e tinham finalidade específica. Tomas era bom de cama e por isso lhe servia. Até Amy descobrir que ele era bom de cama com todas as amigas dela também. Mark era o playboy rico que a levava nos motéis e restaurantes mais caros e isso era o que ele tinha de mais atraente. Por último, o Daniel. Ah o Danny! Lindo, sensível, educado...e gay. É, todos em que realmente você deveria investir são gays. Ao menos, eles podem ser ótimos amigos.
Mas ter amigos não era o que interessava a Amy. Ela tinha cinco bons amigos que fizera ainda quando chegara na cidade aos dezenove anos. Uma estudante desengonçada com a mesma calça jeans Levi’s e o All Star sujo. Naquela época, entretanto, se achava bonita. Os cabelos virgens cor de mel até a altura dos ombros combinavam com a pele pálida e os olhos castanhos claro. Agora, o cabelo estava curto e repicado, em uma tentativa frustrada de parecer moderna, as olheiras de cansaço circundavam seus olhos e se destacavam em sua pele pálida, e pra piorar tudo isto, o seu rosto estava três vezes maior, como ela sempre dizia insatisfeita com o seu peso.
Estava divagando sobre essa sua época quando o telefone tocou. Odiava atender telefonemas, mas de nada adiantava pensar nestas coisas. Deu um profundo suspiro e correu para atender ao telefone.

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