27.9.10

O terceiro ato

"então ele se foi pela segunda vez. sabia que ele voltaria. enquanto não acaba o amor, nada se resolve." Clarah Averbuck


Eu descobri que preciso da terceira cena. Duas vezes não foram suficientes e falo isso por mim e não por você. Eu preciso do terceiro ato. Aquele que trás junto de si toda a dor necessária e toda a felicidade merecida ou não. Toda essa minha vida de solidão é só porque mesmo com o passar dos anos, eu inconscientemente estou fechada porque não resolvi as coisas com você. Eu não te xinguei nem dei na sua cara, nem te amei o tanto que queria, nem gritei para o mundo ir se foder e deixar a gente amar em paz, nem se quer eu chorei as lágrimas que eu precisava. Não. Eu simplesmente engoli tudo, removi todas as lembranças, taquei tudo em uma caixa dentro do meu coração e aquilo ficou lá. E está lá até hoje.
Agora eu sinto que preciso jogar tudo isso fora. Não adianta dizer para o mundo que já superei, porque ao que parece nunca vou consegui superar. Eu não imaginava que se desvencilhar de um amor era assim uma coisa tão difícil.

Agora não é mais questão de querer, é questão de precisar. Eu preciso falar com você e te perguntar o motivo de tudo aquilo e preciso te perdoar e me perdoar  e perdoar nós dois por sermos tão confusos e idiotas. Eu preciso botar pra fora e tentar de novo se for o caso, nem que seja pra ouvir você me dizer com todas as letras que eu sou louca e que sempre estive nessa sozinha.
Não importa mais agora. Não importa se o último ato termina com a personagem principal morta. Eu preciso saber ou nunca vou conseguir seguir em frente.

(...) É bom que seja assim, Dionísio, que não venhas. Voz e vento apenas das coisas do lá fora. E sozinha supor que se estivesses dentro, essa voz importante e esse vento das ramagens de fora eu jamais ouviria. Atento, meu ouvido escutaria o sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio. Porque é melhor sonhar tua rudeza e sorver reconquista a cada noite... E o tempo de amanhã será riqueza: a cada noite, eu Ariana, preparando aroma e corpo... e o verso a cada noite se fazendo de tua sábia ausência.



“De Ariana para Dionísio (Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé)” (Hilda Hilst)

25.9.10

Se tiver tempo,
viajarei mais uma vez,
pois é preciso
recolher meus pedaços
espalhados pelo mundo.


GADELHA, Raimundo. In: Um estreito chamado horizonte. Massao Ohno Editor, São Paulo, 1992.

15.9.10

Que medo eu tenho de uma pessoa que eu não falo nem quero ver pintada de ouro nunca mais na vida. A pessoa simplesmente não se manca que eu não quero mais o ver. Desconfio que acima de tudo, ele ainda lê este blog, então faz o favor de FINGIR QUE EU MORRI, POR FAVOR.